Page 41 - Marinha em Revista
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Quando surgiu seu interesse pela  público consegue se emocionar com  adestramentos, tem a parte física.
            música?                         as apresentações, imagine nós que  Somos muito demandados, há mui-
               Minha família e eu sempre fomos  vivemos isso? É mágico. Quando eu  to esforço físico, principalmente na
            da igreja. Na adolescência, eu icava  passei para Oicial e fui cursar Guerra  pista de obstáculos e de cabos. Foi
            deslumbrada com a banda de música  Anfíbia, mesmo com todo o treina-  exaustivo pra mim e, mesmo per-
            que tocava nos cultos que eu frequen-  mento que nos é exigido, mesmo às  cebendo que, às vezes, o homem
            tava. Não demorou muito e comecei a  vezes tendo que deixar a vaidade fe-  pode demonstrar mais força do que
            estudar as partituras. Foi quando me  minina de lado, é muito tocante par-  a mulher, eu fui superando os meus
            apaixonei pelo saxofone. Toquei na  ticipar de atividades que diicilmente  limites e consegui concluir tudo
            igreja desde os meus 15 anos e, com o  outras mulheres têm a oportunidade   com muito empenho. Durante o
            tempo, fui participando de concursos  de vivenciar.             curso, houve 16 desistências, mas,
            de bandas e sendo convidada a tocar                             com a ajuda de Deus e apoio dos
            em casamentos e festas particulares.  Quando surgiu o sonho de se  meus companheiros de curso, con-
                                            tornar oicial da Marinha do     segui concluir o que me foi exigido.
            Qual o momento mais marcan- Brasil?
            te vivenciado na Marinha como      Foi em 2010, quando terminei Por que você se voluntariou
            sargento músico?                meu curso superior em Música, na  para a missão no Haiti?
               A manobra que participamos du-  Universidade Federal do Estado do  Sempre foi meu sonho integrar
            rante o curso de sargento na Ilha da   Rio de Janeiro. Naquele momento,  uma missão no exterior. Eu tinha
            Marambaia, no Rio de Janeiro (RJ),  eu vi a necessidade de evoluir na  apoio da minha família, então eu
            e a minha primeira apresentação  Marinha também. E mesmo sabendo   fui atrás do sonho de trabalhar com
            como musicista executante na Banda  que não carregaria a música comigo  ações humanitárias. A maior lição
            do Corpo de Fuzileiros Navais, com  nessa nova singradura, eu sempre  que podemos aprender com todo
            certeza, foram as mais marcantes da  tive absoluta certeza de que a música   esse trabalho é o respeito à diver-
            minha vida.                     sempre estaria em minhas raízes.   sidade cultural e a importância da
                                                                            solidariedade. Os haitianos gostam
            Qual a apresentação que mais te  Como foi o Curso de Formação   muito dos brasileiros, então, a nos-
            emocionou?                      de Oicial? Qual o maior desaio  sa convivência no país é muito boa
               Quando a banda se apresentava  enfrentado? Você teve apoio de  com todos.
            para crianças com necessidades es-  seus colegas e sua família?
            peciais. A música funcionava como   Minha  família  sempre  me Qual seu maior orgulho como
            um remédio para as dores, a triste-  apoiou e os meus colegas vibra-  militar?
            za, o desânimo e os problemas. Isso  ram com a novidade, sempre com  Servir a minha pátria não tem
            sempre me emocionava muito. Es-  palavras de ânimo para o novo ca-  preço, mas, como mulher, poder
            tar com aquelas pessoas funciona-  minho que eu estava indo trilhar.  representar o nosso gênero e fazer
            va como tratamento de alma para  Quanto ao início do curso, foram  parte dessa evolução feminina nas
            mim.                            três anos de estudos intensos até a  Forças Armadas é muito signiicati-
                                            aprovação, mas, sem dúvida, o ano  vo para mim. E hoje esse avanço é o
            Quando falamos sobre Fuzilei-   de formação é o mais corrido. A  meu maior orgulho.
            ros Navais, é normal a maioria  quantidade de matérias específicas
            das pessoas associar a especia-  do Fuzileiro Naval é bem extensa, O que a Marinha representa na
            lidade a homens, seja por causa  tanto teórica quanto prática, esse  sua vida?
            das operações especiais seja pelo   foi o maior desafio.           Representa a minha vida, a mi-
            grande esforço físico exigido.                                  nha evolução, as minhas conquistas
            Como é ser uma mulher Fuzilei- Depois do curso de formação,  e o meu sonho. É na Marinha que
            ro Naval?                       você foi fazer especialização   tenho, diariamente, a oportunidade
               Sem dúvida, é um grande orgu-  no curso de Guerra Anfíbia.   de desenvolver minhas técnicas, de
            lho. Eu não consigo nem expressar a   Como foi essa experiência?  aperfeiçoar minhas habilidades, tra-
            emoção. Apesar de ser bem desaia-  Foi em 2016 e eu era a única  balhar com o que eu gosto, ganhar
            dor, é gratiicante. Mesmo quando eu   mulher do curso, o meu desafio co-  novas experiências e descobrir no-
            era musicista, já era maravilhoso. Se o  meçou aí. Além da intensidade dos  vos rumos.


            MARINHA em Revista                                                 Ano 08 - Número 12 - março 2018  39
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